Original
Relação da força muscular com o desempenho no levantamento olímpico em praticantes de CrossFit ®
Relación de la fuerza muscular con el rendimiento en levantamiento de peso olímpico en praticantes de CrossFit ®
Correlation of muscle strength with weightlifting performance in CrossFit ® practitioners
R.A. Tibana a , , , D.L. de Farias a , D.C. Nascimento a , M.E. Da Silva‐Grigoletto b , J. Prestes a
a Programa de Pós Graduação em Educação Física, Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, Brasil
b Programa de Pós Graduação em Educação Física, Universidade Federal de Sergipe, Sergipe, Brasil
Recibido 29 agosto 2015, Aceptado 16 noviembre 2015
Resumo
Objetivos

O objetivo do presente estudo foi analisar e relacionar a força muscular do back squat e front squat com o desempenho nos movimentos de levantamento olímpico snatch e clean em praticantes de CrossFit®.

Método

Participaram deste estudo 22 adultos, que foram divididos de acordo com o desempenho nos movimentos de snatch e clean: fortes (29.6 ± 4.4 anos; 80.95 ± 9.57 kg; 12.2 ± 5.8% de gordura; 2.4 ± 0.9 experiência de treinamento) e fracos (28.5 ± 5.4 anos; 79.4 ± 6.8 kg; 13.6 ± 3.5% de gordura; 2.0 ± 1.1 experiência de treinamento). Todos os voluntários realizaram em dias separados os testes de uma repetição máxima nos exercícios: back squat, front squat, snatch e clean.

Resultados

Os voluntários classificados com o melhor desempenho no snatch e clean apresentaram maior força no back squat (154.9 ± 20.3 kg vs. 132.7 ± 11.6 kg; p = 0.009) e no front squat (139.0 ± 14.5 kg vs. 116.8 ± 11.3 kg; p = 0.002), quando comparados aos voluntários mais fracos. Além disso, foram observadas correlações fortes entre a força relativa do back squat (r = 0.83; r = 0.76; p = 0.001) e do front squat (r = 0.73; r = 0.83; p = 0.001) com a performance nos exercícios snatch e clean, respectivamente.

Conclusões

Portanto, uma força superior em exercícios básicos, como o back squat e o front squat, podem contribuir para o desempenho do levantamento olímpico em praticantes de CrossFit®.

Resumen
Objetivo

El propósito del presente estudio fue analizar y relacionar la fuerza muscular de la sentadilla por delante y por detrás con el rendimiento en los movimientos de halterofilia de arranque y de cargada en practicantes de CrossFit®.

Método

Participaron en este estudio 22 adultos que fueron divididos de acuerdo con el rendimiento en los movimientos de arranque y cargada: fuertes (29.6 ± 4.4 años; 80.95 ± 9.57 kg; 12.2 ± 5.8% de grasa corporal; 2.4 ± 0.9 experiencia de entrenamiento) y débiles (28.5 ± 5.4 años; 79.4 ± 6.8 kg; 13.6 ± 3.5% de grasa corporal; 2.0 ± 1.1 experiencia de entrenamiento). Todos los voluntarios realizaron, en días diferentes, los test de una repetición máxima en los ejercicios: sentadilla por detrás, sentadilla por delante, arranque y cargada.

Resultados

Los voluntarios clasificados con el mejor rendimiento en el arranque y en la cargada presentaron mayor fuerza en la sentadilla por detrás (154.9 ± 20.3 kg vs. 132.7 ± 11.6 kg; p = 0.009) y en la sentadilla por delante (139.0 ± 14.5 kg vs. 116.8 ± 11.3 kg; p = 0.002) cuando fueron comparados con los voluntarios más débiles. Además, se observaron correlaciones fuertes entre la fuerza relativa de la sentadilla por detrás (r = 0.83; r = 0.76; p = 0.001) y la sentadilla por delante (r = 0.73; r = 0.83; p = 0.001) con el rendimiento en los ejercicios de arranque y cargada, respectivamente.

Conclusión

Por tanto, una mayor fuerza en ejercicios básicos, como la sentadilla por detrás y por delante, pueden contribuir para el rendimiento de los ejercicios olímpicos en practicantes de CrossFit®.

Abstract
Objectives

The aim of the present study was to analyze and correlate muscle strength of the back and front squat with performance in the movements of weightlifting snatch and the clean in CrossFit® practitioners.

Method

Twenty‐two adults participated in this study and were divided according to their performance in the snatch and clean movements: stronger (29.6 ± 4.4 years; 80.95 ± 9.57 kg; 12.2 ± 5.8% body fat; 2.4 ± 0.9 training experience) and weaker (28.5 ± 5.4 years; 79.4 ± 6.8 kg; 13.6 ± 3.5% body fat; 2.0 ± 1.1 training experience). All volunteers completed one‐repetition maximum tests, in separate days, in the following exercises: back squat, front squat, snatch and the first phase of the clean.

Results

The volunteers classified with a superior performance in the snatch and clean presented a higher strength in the back squat (154.9 ± 20.3 kg vs 132.7 ± 11.6 kg; p = 0.009) and front squat (139.0 ± 14.5 kg vs 116.8 ± 11.3 kg; p = 0.002) as compared with the weaker volunteers. Additionally, there were strong correlations between relative strength in the back squat (r = 0.83; r = 0.76; p = 0.001) and front squat (r = 0.73; r = 0.83; p = 0.001) with the performance in the snatch and clean exercises, respectively.

Conclusions

Therefore, a superior strength in basic exercises, such as back and front squat can contribute to weightlifting performance in CrossFit® practitioners.

Palavras‐chave
Treinamento de força, Potência, Desempenho
Palabras clave
Entrenamiento de fuerza, Potencia, Rendimiento
Keywords
Strength training, Power, Performance
Introdução

O CrossFit® é um método de treinamento novo caracterizado pela realização de exercícios funcionais e esportivos, constantemente variados que podem ser executados em alta intensidade. Este tipo de treinamento utiliza exercícios do levantamento olímpico (LPO) como snatch e clean, exercícios básicos como os agachamentos, levantamento terra e supino, exercícios aeróbios como remos, corrida e bicicleta, e movimentos ginásticos como paradas de mão, paralelas, argolas e barras 1 .

Os exercícios de LPO (snatch e clean e suas variações) são comumente incorporados em uma programação para o treinamento de potência muscular de atletas de diversos tipos de esportes 2,3 . Uma característica dos movimentos de LPO e suas variações é requerer uma aceleração do praticante/atleta ao longo de toda a fase de propulsão. E diferente dos exercícios balísticos que possuem a mesma similaridade, é de que os movimentos de LPO são capazes de gerar grande potência em cargas elevadas (70‐80% de uma repetição máxima [1RM]) 4 . Além disso, os movimentos de LPO se tornaram populares na preparação desportiva, devido ao fato de sua similaridade entre a tripla extensão (joelho, tornozelo e quadril) durante os movimentos de levantamento com os movimentos atléticos de outros esportes 5 . Interessantemente, estudos anteriores encontraram fortes correlações entre os movimentos de LPO e o sprinting 6 , salto vertical 6,7 e a habilidade em mudança de direção 6 . Portanto, o uso do LPO no treinamento é de fundamental importância para atletas que necessitam produzir potência contra cargas leves e/ou elevadas.

Um aspecto importante relacionado ao LPO é a relação existente entre a força muscular máxima e a potência 3,8,9 . Estudos transversais em atletas de elite ou amadores têm demonstrado que, quanto mais fortes são os movimentos no agachamento (back e front squat), maiores são os níveis de produção de potência quando comparados aos indivíduos mais fracos 9 . Além disso, a força muscular tem sido associada com o desempenho no salto vertical, na performance em corridas de curta duração 10 e com performance no workout of the day (WOD) do CrossFit® 11 .

No entanto, para nosso conhecimento, até o presente momento nenhum estudo avaliou a relação da força máxima nos exercícios de front squat e posterior com os movimentos de LPO em praticantes de CrossFit®.

Portanto, o objetivo do presente estudo foi analisar e relacionar a força muscular de back squat, front squat, snatch e clean em praticantes de CrossFit®. A hipótese inicial do presente estudo foi de que haveria uma correlação entre a força de agachamento com os movimentos do LPO; além disso, os praticantes de CrossFit® que apresentassem melhor performance no LPO seriam aqueles com maior força muscular nos exercícios de front squat e back squat.

Método Amostra

Participaram do presente estudo 22 adultos aparentemente saudáveis do sexo masculino, no qual foram divididos, de acordo com o desempenho nos movimentos de snatch e clean, em fortes (29.6 ± 4.4 anos; 2.4 ± 0.9 anos de experiência) e fracos (28.5 ± 5.4; 2.0 ± 1.1 anos de experiência) (tabela 1). Como critérios de inclusão os participantes não deveriam possuir quaisquer lesões osteomioarticulares ou algum tipo de doença que poderia comprometer a saúde durante o estudo; responder negativamente ao questionário PAR‐Q; entregar até a data estipulada o termo de consentimento livre e esclarecido, e ter um tempo mínimo de prática no CrossFit® de seis meses. O projeto foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição sob o Protocolo n.° 030/09, parecer n.° 035/09.

Tabela 1.

Características da amostra apresentados pela média, desvio padrão, valores mínimos e máximos

  Alta força
(n = 11) 
Baixa força
(n = 11) 
p 
Idade (anos)  29.64 ± 4.36 (24‐38)  28.55 ± 5.41 (19.0‐37.0)  0.61 
Massa corporal (kg)  80.95 ± 9.57 (69.0‐99.5)  79.36 ± 6.77 (66.0‐88.0)  0.83 
Estatura (m)  1.75 ± 0.07 (1.67‐1.90)  1.76 ± 0.06 (1.65‐1.85)  0.68 
Índice de massa corporal (mc/kg2 26.22 ± 2.05 (24.25‐31.10)  25.53 ± 1.27 (23.05‐27.68)  0.78 
Gordura (kg)  10.33 ± 6.12 (4.14‐25.18)  10.77 ± 2.76 (7.90‐17.51)  0.27 
Massa magra (kg)  70.69 ± 6.25 (60.78‐80.04)  68.58 ± 7.21 (55.43‐76.60)  0.69 
Experiência (anos)  2.41 ± 0.93 (1.5‐4.0)  2.02 ± 1.14 (0.8‐5.0)  0.22 
Procedimentos

Os sujeitos foram analisados de acordo com o desempenho nos exercícios de LPO (snatch e clean) e classificados em fortes (n = 11) e fracos (n = 11), para efeito da comparação dos exercícios de agachamento (front e back).

A composição corporal foi avaliada através da utilização de compasso de dobra cutânea (Lange©); o protocolo utilizado foi o descrito previamente por Pollock e Jackson 12 para homens (18‐61 anos). A massa corporal foi mensurada em uma balança de leitura digital, da marca Welmy (W110H, São Paulo, Brasil), com capacidade de 150 kg e divisão de 100 g.

Todos os testes de 1RM no back squat, front squat, snatch e clean foram realizados de acordo com os protocolos estabelecidos pelo National Strength Conditioning Association 13 , com intervalos de, no mínimo, 48 h entre as sessões para minimizar os efeitos da fadiga e dor muscular. Todos os testes foram realizados com barra (20 kg) e pesos (1‐25 kg) (Pood Fitness ® ) de forma randomizada. Logo após um aquecimento de baixa intensidade de cinco minutos na bicicleta ergométrica ou remo indoor, foram seguidas as seguintes recomendações: 1) aquecimento de 5‐10 repetições com intensidade de leve a moderado; 2) descanso de um minuto, e incremento do peso tentando alcançar as 1RM em 3‐5 tentativas, usando cinco minutos de intervalo entre uma tentativa e outra; 3) o valor registrado foi o de uma repetição, com o peso máximo levantado na última tentativa bem‐sucedida.

Resumidamente, a fim de minimizar os erros, foram adotadas as seguintes estratégias: a) instruções padronizadas foram fornecidas antes do teste, de modo a que o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que envolvia a coleta de dados; b) o avaliado foi instruído sobre a técnica de execução do exercício; c) o avaliador estava atento quanto à posição adotada pelo praticante no momento do teste; d) estímulos verbais foram realizados a fim de manter alto o nível de estimulação.

Análise de dados

Considerando o tamanho amostral, para a comparação entre os grupos o teste de não paramétrico de Mann‐Witney e para a correlação o teste de Spearman foram aplicados. Para a apresentação dos dados o gráfico de dispersão foi utilizado. Com base nos valores da força do arranco e arremesso, a amostra foi dividida em: grupo forte e grupo fraco, para efeito da comparação da força muscular no back squat e frontal, por meio do teste Mann‐Witney. Para todas as análises estatísticas o software Statistical Package for Social Sciences (SPSS, Inc., v. 18.0; IBM Corporation, Somers, NY, EUA) foi utilizado. Um nível alfa 0.05 foi considerado como estatisticamente significativo.

Resultados

Na tabela 1, as características dos participantes são apresentadas e para todas as variáveis nenhuma diferença entre os grupos foi identificada (p > 0.05).

Para as variáveis da força absoluta e relativa, diferenças significativas entre os grupos foram identificadas. O grupo alta força apresentou valores significativamente maiores, tanto na carga absoluta e relativa, para os exercícios arranco (p < 0.05), arremesso (p < 0.05), back squat (p < 0.05) e front squat (p < 0.05) (tabela 2 e figura 1).

Tabela 2.

Características da força absoluta e relativa da amostra apresentadas pela média, desvio padrão, valores mínimos e máximos

  Alta força  Baixa força 
Back squat (kg)  154.91 ± 20.36 (129.54‐193.18)  132.72 ± 11.65 (100.00‐143.18)  0.009 
Front squat (kg)  139.04 ± 14.58 (120.45‐165.90)  116.81 ± 11.36 (90.90‐129.54)  0.002 
Clean (kg)  118.14 ± 11.12 (102.27‐138.63)  101.03 ± 8.81 (81.81‐115.90)  0.001 
Snatch (kg)  92.27 ± 7.78 (84.09‐109.09)  76.28 ± 7.44 (61.36‐88.63)  0.001 
Clean (kg/mc)  1.48 ± 0.23 (1.07‐1.77)  1.27 ± 0.10 (1.12‐1.48)  0.020 
Snatch (kg/mc)  1.15 ± 0.14 (0.89‐1.35)  0.96 ± 0.07 (0.82‐1.06)  0.001 

kg/mc: força relativa; mc: massa corporal.

Figura 1.
(0.08MB).

Comparação das cargas relativas do back squat e front squat, entre os grupos apresentados pela média e desvio padrão.

DP: desvio padrão; kg/mc:força relativa.

Considerando que o coeficiente de correlação é uma medida do tamanho de um efeito comumente utilizado 14 : valores de ± 0.1 representam um efeito pequeno, ± 0.3 representa um efeito médio e ± 0.5, um efeito grande. Os valores de correlação entre todos os exercícios foram grandes e significativos (r > 0.50; p < 0.05) (tabela 3).

Tabela 3.

Correlação entre as cargas relativas dos exercícios

  Snatch
(kg/mc) 
Clean (kg/mc)  Back squat (kg/mc)  Front squat (kg/mc) 
Snatch (kg/mc)
r  –  0.750  0.830  0.730 
–  0.001  0.001  0.001 
Clean (kg/mc)
r  0.750  –  0.760  0.830 
0.001  –  0.001  0.001 
Back squat (kg/mc)
r  0.830  0.760  –  0.770 
0.001  0.001  –  0.001 
Front squat (kg/mc)
r  0.730  0.830  0.770  – 
0.001  0.001  0.001  – 

AGMT: agachamento; kg/mc: força relativa; mc: massa corporal; r: coeficiente de correlação; p: nível de significância.

Discussão

Os objetivos do presente estudo foram analisar e relacionar a força muscular do back squat, front squat, snatch e clean em praticantes de CrossFit®. Confirmando a hipótese inicial do presente estudo, os resultados encontrados demonstraram que os indivíduos que apresentam melhor performance nos exercícios de LPO (snatch e clean) são aqueles que possuem maior força muscular no back squat e no front squat. Além disso, houve uma correlação forte entre os exercícios de agachamento e os exercícios de LPO em praticantes de CrossFit®.

Os exercícios de LPO (snatch e clean e suas variações) são comumente incorporados em uma programação para o treinamento de potência muscular de atletas de diversos tipos de esportes 2 . Os movimentos de LPO se tornaram populares na preparação desportiva, devido ao fato de sua similaridade entre a tripla extensão (joelho, tornozelo e quadril) durante os movimentos de levantamento com os movimentos atléticos de outros esportes 5 . Interessantemente, estudos anteriores encontraram fortes correlações entre os movimentos de LPO e o sprinting 6 , salto vertical 6,7 e a habilidade em mudança de direção 6 . Não obstante, Seitz et al. 15 demonstraram em atletas de rugby que a utilização do clean e do back squat (uma série de três repetições com 90% de 1RM) propiciaram melhoras na performance de 20 metros de sprint, quando comparado a situação controle. No entanto, o clean obteve maior magnitude de efeito quando comparado ao agachamento.

Um aspecto importante relacionado ao LPO é a relação existente entre a força muscular máxima e a potência. Stone et al. 6 analisaram a relação da força do back squat com o desempenho no snatch e clean em atletas de elite de LPO dos EUA. Similar ao presente estudo, os autores reportaram forte correlação entre o back squat com o desempenho no snatch (r = 0.80) e no clean (r = 0.85). No entanto, no presente estudo nós utilizamos tanto o back squat, bem como o front squat e apresentaram diferenças na correlação com os exercícios de LPO, sendo o back squat mais relacionado com o desempenho no snatch (r = 0.83) e o front squat com o clean (r = 0.83). Não obstante, Ugrinowitsch et al. 8 demonstraram que a força de 1RM no leg press em atletas de corrida de curta duração e de fisiculturistas recreacionais foi correlacionada com a altura do salto vertical (r = 0.93 e r = 0.89), respectivamente.

Em um elegante estudo, Cormie et al. 16 determinaram como a magnitude das melhoras na performance estaria relacionada de acordo com o nível de força muscular dos voluntários, após um período de treino balístico (três vezes por semana durante dez semanas/agachamentos com salto com carga de 0‐30%). Interessantemente, após as dez semanas de intervenção, ambos os grupos demonstraram melhoras significativas no salto vertical (fortes: potência pico = 10 w.kg; altura do salto = 0.07 m; fracos: potência pico = 9 w.kg; altura do salto = ∼0.06 m); no entanto, quando analisado o tamanho do efeito, o grupo forte apresentou melhoras mais expressivas. Além disso, não foram observadas diferenças nos mecanismos (relação força‐velocidade, ativação neural e mecanismos de salto) entre os grupos após as dez semanas de intervenção.

Nesse aspecto, no CrossFit® os exercícios de LPO são utilizados como parte da programação, tanto em situações de treino específico, bem como durante o condicionamento metabólico 1 . De acordo com os resultados encontrados no presente estudo, os indivíduos mais fracos nos exercícios de LPO eram aqueles que possuíam menor força nos agachamentos. De forma análoga ao encontrado no presente estudo, Butcher et al. 11 demonstraram que a performance no WOD do CrossFit®, «Grace» (30 repetições de arremesso, no menor tempo possível) e «Fran» (21,15 e nove repetições de thrusters e barra‐fixa), foi predita apenas pela força muscular total (back squat, desenvolvimento e levantamento terra) (r = –0.88 e r = –0.65, respectivamente) em atletas amadores de CrossFit® (∼ quatro anos de experiência). Portanto, parece plausível que os treinadores determinem o grau de força dos alunos/atletas para priorizarem sessões de treino de força de agachamento nos alunos com baixa força muscular.

Não obstante, é importante destacar que apesar de terem sido encontradas correlações fortes entre os exercícios de agachamento (front e back) com os movimentos de LPO (snatch e clean) em atletas amadores de CrossFit® (∼ dois anos de treinamento). Em atletas com anos de experiência, os graus da influência na força dos exercícios básicos diminuem; por exemplo, um atleta com anos de experiência pode não apresentar ganhos nos exercícios de LPO através apenas do aumento na força dos exercícios de agachamento 2 .

É oportuno destacar algumas possíveis limitações metodológicas do presente estudo: o delineamento transversal, que não permite interpretação de causa e efeito, a aplicação dos resultados para outros exercícios, especialmente para aqueles de membros superiores (ex. supino), a extrapolação para outras populações, como, por exemplo, mulheres, idosos, indivíduos destreinados e atletas profissionais. Além disso, tem sido sugerido que um ótimo volume de treino (moderado), com alta intensidade (> 90‐100% de 1RM), pode propiciar melhorias no desempenho da força máxima. Por outro lado, se o planejamento do volume e intensidade do treinamento não for adequado, os ganhos de força podem ser comprometidos; no presente estudo não foram avaliados os diferentes volumes de treino em diferentes intensidades (baixa, moderada ou alta), o que pode interferir nos resultados do estudo 17 .

Em conclusão, o presente estudo demonstrou que os indivíduos praticantes de CrossFit® que apresentam maior força muscular, no back squat e no front squat, possuem melhor desempenho nos exercícios de LPO (arranco e primeira fase do arremesso). Além disso, existem correlações fortes entre o desempenho nos exercícios de LPO e a força dos agachamentos, evidenciando a importância desses exercícios para o desempenho de praticantes de CrossFit®.

Responsabilidades éticas Proteção de pessoas e animais

Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica e ética e de acordo com os da Associação Médica Mundial e da Declaração de Helsinki.

Confidencialidade dos dados

Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.

Direito à privacidade e consentimento escrito

Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Referências
1
R.A. Tibana,L.M. de Almeida,J. Prestes
Crossfit® riscos ou benefícios? O que sabemos até o momento
Rev Bras Cien Mov, 23 (2015), pp. 182-185
2
P. Cormie,M.R. McGuigan,R.U. Newton
Developing maximal neuromuscular power: Part 2 – training considerations for improving maximal power production
Sports Med., 41 (2011), pp. 125-146 http://dx.doi.org/10.2165/11538500-000000000-00000
3
G. Remiro Alvarez,M.E. da Silva-Grigoletto,J.M. García-Manso
editores. La halterofilia aplicada al deporte
1.a ed., Wanceulen. Editorial Deportiva, (2013)
4
P. Cormie,G.O. McCaulley,N.T. Triplett,J.M. McBride
Optimal loading for maximal power output during lower‐body resistance exercises
Med Sci Sports Exerc., 39 (2007), pp. 340-349 http://dx.doi.org/10.1249/01.mss.0000246993.71599.bf
5
N. Hori,R.U. Newton,K. Nosaka,M.H. Stone
Weightlifting exercises enhance athletic performance that requires high‐load speed strength
Strength Cond J., 27 (2005), pp. 50-55
6
N. Hori,R.U. Newton,W.A. Andrews,N. Kawamori,M.R. McGuigan,K. Nosaka
Does performance of hang power clean differentiate performance of jumping, sprinting, and changing of direction?
J Strength Cond Res., 22 (2008), pp. 412-418 http://dx.doi.org/10.1519/JSC.0b013e318166052b
7
J.M. Carlock,S.L. Smith,M.J. Hartman,R.T. Morris,D.A. Ciroslan,K.C. Pierce
The relationship between vertical jump power estimates and weightlifting ability: A field‐test approach
J Strength Cond Res., 18 (2004), pp. 534-539 http://dx.doi.org/10.1519/R-13213.1
8
C. Ugrinowitsch,V. Tricoli,A.L. Rodacki,M. Batista,M.D. Ricard
Influence of training background on jumping height
J Strength Cond Res., 21 (2007), pp. 848-852 http://dx.doi.org/10.1519/R-20162.1
9
M.H. Stone,W.A. Sands,K.C. Pierce,J. Carlock,M. Cardinale,R.U. Newton
Relationship of maximum strength to weightlifting performance
Med Sci Sports Exerc., 37 (2005), pp. 1037-1043
10
U. Wisløff,C. Castagna,J. Helgerud,R. Jones,J. Hoff
Strong correlation of maximal squat strength with sprint performance and vertical jump height in elite soccer players
Br J Sports Med., 38 (2004), pp. 285-288
11
S.J. Butcher,T.J. Neyedly,K.J. Horvey,C.R. Benko
Do physiological measures predict selected CrossFit(®) benchmark performance
Open Access J Sports Med., 6 (2015), pp. 241-247 http://dx.doi.org/10.2147/OAJSM.S88265
12
M.L. Pollock,A.S. Jackson
Research progress in validation of clinical methods of assessing body composition
Med Sci Sports Exerc., 16 (1984), pp. 606-615
13
T.R. Baechle,R.W. Earle,D. Wathen
Resistance Training
Essentials of strength training and conditioning., pp. 381-412
14
Descobrindo a estatística usando SPSS.,
15
L.B. Seitz,G.S. Trajano,G.G. Haff
The back squat and the power clean: Elicitation of different degrees of potentiation
Int J Sports Physiol Perform., 9 (2014), pp. 643-649 http://dx.doi.org/10.1123/ijspp.2013-0358
16
P. Cormie,M.R. McGuigan,R.U. Newton
Influence of strength on magnitude and mechanisms of adaptation to power training
Med Sci Sports Exerc., 42 (2010), pp. 1566-1581 http://dx.doi.org/10.1249/MSS.0b013e3181cf818d
17
J.J. González-Badillo,M. Izquierdo,E.M. Gorostiaga
Moderate volume of high relative training intensity produces greater strength gains compared with low and high volumes in competitive weightlifters
J Strength Cond Res., 20 (2006), pp. 73-81 http://dx.doi.org/10.1519/R-16284.1
Autor para correspondência. (R.A. Tibana ramirestibana@gmail.com)
Copyright © 2016. Consejería de Turismo y Deporte de la Junta de Andalucía