Rev Andal Med Deporte. 2020; 13(2): 55-59
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Revista Andaluza de Medicina del Deporte
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Original Validação da versão brasileira do Physical Self-Description Questionnaire – Short A. Vaz Junior, M. Mouad, T. G. Cavazzotto, H. Serassuelo Junior Departamento de Ciência do Esporte, Universidade Estadual de Londrina. Brasil. INFORMAÇãO sobre o artigo: Recebido a 10 de janeiro de 2019, aceite a 4 de fevereiro de 2020, online a 7 de fevereiro de 2020 |
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RESUMO
Objetivo: Analisar a validade e fidedignidade das declarações e dimensões do “Physical Self-Description Questionnaire – Short” em brasileiros adultos com e sem deficiência.
Método: O presente estudo é de delineamento transversal e característica retrospectiva. Participaram do estudo 998 brasileiros adultos, com e sem deficiência, para a etapa de validade e consistência interna e 823 para reprodutibilidade, de ambos os sexos, de diferentes regiões do Brasil. O processo de validade foi analisado pela análise fatorial exploratória, a reprodutibilidade pelo coeficiente de correlação intraclasse e a consistência interna pelo alfa de Cronbach.
Resultado: Em todas as declarações do autoconceito físico obteve-se cargas fatoriais iguais ou superiores a 0.70, para pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência. Os dois grupos demonstraram scores adequados de reprodutibilidade, apresentando valores ≥ 0.80. A consistência interna para as dimensões variaram entre 0.77-0.95.
Conclusões: As dimensões do do “Physical Self-Description Questionnaire – Short” apresentaram validade fatorial, reprodutibilidade e consistência interna adequados, sendo recomendada a sua utilização em estudos que avaliem o autoconceito físico de brasileiros com e sem deficiência.
Palavras-chave: Reprodutibilidade dos resultados; Pessoas com Deficiência; Saúde; Psicologia do Esporte.
Validación de la versión brasileña del Physical Self-Description Questionnaire – Short
RESUMEN
Objetivo:Analizar la validez y fiabilidad de las declaraciones y dimensiones del "Physical Self-Description Questionnaire - Short" en brasileños adultos con y sin discapacidad.
Método:El presente estudio es de diseño transversal retrospectivo. Participaron en el estudio 998 brasileños adultos, con y sin discapacidad, en la etapa de validez y consistencia interna y 823 para la de reproducibilidad, de ambos sexos, de diferentes regiones de Brasil. El proceso de validez fue analizado por el análisis factorial exploratorio, la reproducibilidad por el coeficiente de correlación intraclase y la consistencia interna por el alfa de Cronbach.
Resultado:Todas las declaraciones del autoconcepto físico demostraron cargas factoriales igual o superiores a 0.70, para personas con discapacidad y personas sin discapacidad. Para los dos grupos se verificaron puntuaciones adecuadas de reproducibilidad, presentando valores ≥ 0.80. La consistencia interna para las dimensiones varía entre 0.77-0.95.
Conclusiones:Las dimensiones del "Physical Self-Description Questionnaire - Short" presentaron validez factorial, reproducibilidad y consistencia interna adecuadas, siendo recomendada su utilización en estudios que evalúen el autoconcepto físico de brasileños con y sin discapacidad.
Palabras clave: Reproducibilidad de los resultados; Personas con Discapacidad; Salud; Psicología del Deporte.
Validation of the brazilian version of the Physical Self-Description Questionnaire – Short
ABSTRACT
Objective:To analyze the validity and reliability of the statements and dimensions of the "Physical Self-Description Questionnaire - Short" (PSDQ-S) in Brazilian adults with and without disabilities.
Method:The present study has a cross - sectional design and a retrospective feature. 998 Brazilian adults, with and without disabilities, participated in the study for the validity and internal consistency and 823 for reproducibility, of both sexes, from different regions of Brazil. The validity process was analyzed by the exploratory factorial analysis, the reproducibility by the intraclass correlation coefficient and the internal consistency by the Cronbach's alpha.
Results:The statements of physical self-concept showed factorial loads equal to or greater than 0.70, both for people with disabilities and for people without disabilities. Adequate reproducibility scores were found for both groups, with values ≥ 0.80. The internal consistency for the dimensions ranged from 0.77-0.95.
Conclusions:The dimensions of the “Physical Self-Description Questionnaire - Short“ presented adequate factorial validity, reproducibility and internal consistency, being recommended their use in studies that evaluate the physical self-concept of Brazilians with and without disabilities.
Keywords:Reproducibility of results; Disabled persons; Health; Sports Psychology.
Introdução
O Autoconceito físico (ACF) é um constructo multidimensional, considerado por diferentes autores como elemento central, que auxilia na formação da personalidade e reflete a satisfação pessoal e o bem estar psicológico1. Este constructo influencia no ajustamento psicossocial do indivíduo, pois estabelece relação direta com a percepção que o este tem de si mesmo e com o feedback que recebe, direta ou indiretamente, a cerca de suas habilidades e/ou sua aparência física.
Ressalta-se que a percepção do ACF é uma estrutura mutável, a qual pode sofrer alterações provenientes do aumento da idade e, também, de alterações advindas de mudanças na estrutura física2.
O Physical Self-Description Questionnaire – Short (PSDQ-S), contem 40 declarações que avaliam 11 dimensões do ACF, nove atribuídas a componentes físicos e duas de componentes globais3.
O PSDQ-S é um instrumento que foi utilizado por diferentes populações, de diferentes continentes. Este instrumento apresenta bons parâmetros de validade, boa reprodutibilidade e consistência interna3.
Ao observar a literatura é possível identificar que diferentes estudos que avaliaram o ACF de pessoas com deficiência (PCD) adaptaram questionários validados para pessoas sem deficiência (PSD). Contudo, a adaptação de questionários pode comprometer as propriedades psicométricas, possibilitando vieses nas pesquisas4. Nesse sentido, validar instrumentos que avaliem o ACF de PCD e PSD torna-se necessário para que este constructo possa ser melhor elucidado para ambas as populações, sanando esta lacuna científica da área.
Assim, o objetivo desse estudo foi analisar a validade e fidedignidade de conteúdo da versão brasileira do instrumento PSDQ-S em adultos brasileiros com e sem deficiência.
Método
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina sob o número 2.289.206 e, para seu desenvolvimento adotou-se as orientações do STARD 2015.
A pesquisa tem característica descritiva de campo, com delineamento transversal e, as coletas de dados foram realizadas em instituições públicas e privadas pertencentes a todas as regiões do território nacional, como academias de musculação, clínicas terapêuticas, clubes esportivos e instituições de ensino superior, as quais foram convidadas através de uma carta convite.
O estudo foi realizado entre 2017 e 2018, presencialmente, nas próprias instituições convidadas, pelos integrantes do Grupo de Estudos em Atividade física, Psicologia e Saúde (GEAPS) da Universidade Estadual de Londrina.
Amostra
O tamanho da amostra foi determinado na proporção 10:1, sendo necessários 10 indivíduos para cada questão5. Nesse sentido, foi necessário para o estudo pelo menos, 400 PCD e 400 PSD.
A população inicial foi composta por 1094 adultos brasileiros, de 18 a 40 anos, de ambos os sexos e, a amostra final foi de 998 indivíduos, sendo 417 PCD e 581 PSD. Inicialmente, as instituições responsáveis pelos espaços autorizaram à realização do estudo, posteriormente, a população foi informada da metodologia e objetivos do estudo e, ao autorizarem a participação, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Por fim, os indivíduos foram instruídos sobre o preenchimento dos questionários e supervisionados durante sua execução.
Procedimentos
Para estratificação de aspectos gerais e caracterização da amostra e sua classificação, a pesquisa utilizou o Questionário de nível socioeconômico da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa6, adicionado de um questionário sobre deficiência, a fim de estratificar a amostra e selecionar indivíduos com deficiências físicas, visto que, deficiências intelectuais e sensoriais necessitariam de outros procedimentos e instrumentos de avaliação.
O ACF foi mensurado por uma escala Likert de seis pontos, que analisou as 40 declarações, estratificando o ACF em nove componentes físicos e dois globais. Dentre os componentes físicos estão a dimensão “Aparência” (12, 18, 28), “Força” (02, 13, 29), “Resistência” (04, 30, 37), “Flexibilidade” (03, 14, 36), “Saúde” (06, 15, 25, 32, 39), “Coordenação” (01, 07, 16, 19, 26), “Exercício físico” (08, 20, 27, 33), “Gordura corporal” (09, 17, 21) e “Competência esportiva” (10, 22, 34) e, dentre componentes globais estão a dimensão “Autoconceito físico global” (11, 23, 35) e “Autoestima” (05, 24, 31, 38, 40).
A população foi agrupada em dois grupos, devido à possível divergência entre os resultados do ACF para PCD e PSD.
Análise estatística
A análise fatorial exploratória (AFE) foi utilizada para analisar a validade do instrumento, considerando a primeira aplicação do instrumento. Carga igual ou superior a 0.40 foram considerados relevantes nos itens para definirem o fator7. O índice de Kaiser Meyer-Olkin (KMO) e o teste de esfericidade de Barlett (BTS) foram utilizados para a adequação dos itens das variáveis para a análise fatorial, sendo considerados satisfatórios valores de KMO ≥ 0.60 e BTS com significância de P < 0.05.
O procedimento de reprodutibilidade teste-reteste e a consistência interna foram utilizados para analisar a fidedignidade. Para o procedimento de reprodutibilidade adotou-se o intervalo de uma semana para as aplicações, sendo executado o mesmo procedimento de aplicação da primeira semana e, os indivíduos que não compareceram para a réplica do estudo foram desconsiderados. Os índices de cada item e das dimensões foram comparados entre as aplicações do questionário pelo Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC) e, havendo itens não preenchidos, o questionário foi excluído da amostra. Por fim, a consistência interna do instrumento foi analisada pelo Alpha de Cronbach (α), considerando-se apenas os instrumentos coletados na primeira avaliação. Foi utilizado o pacote estatístico SPSS 20.0 e adotou-se a significância de 5%.
Resultados
A Figura 1 apresenta o fluxo da amostra que participou do estudo em suas diferentes etapas e, as características da amostra estão descritas na Tabela 1. Nesse sentido, observou-se uma predominância da cor parda entre os homens com e sem deficiência, enquanto dentre as mulheres houve predominância da cor branca em ambos os grupos. Quanto à região identificou-se uma predominância entre PCD da região Sudeste do Brasil, enquanto o grupo PSD demonstrou predominância do Sul do Brasil. Por fim, quanto ao nível econômico, observou-se predominância da classe B para todos os subgrupos.
Figura 1.- Figura de fluxo de participantes dos procedimentos de validação e fidedignidade e no processo de reprodutibilidade do "Physical Self-Description Questionnaire - Short" para brasileiro com e sem deficiência.
Tabela 1. Freqüência das características descritivas da amostra, levando em consideração: cor da pele, região do Brasil e nível socioeconômico da amostra. PSD: pessoas sem deficiência; PCD: pessoas com deficiência.
M: Média; A: Nível econômico considerado elevado; B/C: Nível econômico considerado médio; D-E: Nível econômico considerado baixo; PCD: Pessoas com deficiência; PSD: Pessoas sem deficiência; P: significância estatística referente às comparações pelo teste t de Student independente e teste Mann-Whitney; Valores em negrito apresentaram valores de comparação estatisticamente significante (P<0.05).
Na Tabela 2 observa-se que a análise fatorial exploratória identificou 11 fatores independentes para as declarações inerentes ao ACF para PCD e PSD. Para PCD, ambos os fatores explicaram entre 62.2-73.1% a variância total para a escala e, entre PSD essa variância total foi entre 58.5-71.4%. Ademais, todos os itens apresentaram carga fatorial ≥ 0.71 em seus respectivos fatores. Ressalta-se que as dimensões mantiveram a mesma quantidade de declarações do instrumento original.
Tabela 2. Análise fatorial exploratória das dimensões do Autoconceito físico, do instrumento"Physical Self-Description Questionnaire - Short", em adultos brasileiros
AFE: análise fatorial exploratória; PSD: Pessoas sem deficiência; PCD: Pessoas com deficiência física; KMO: Kaiser Meyer Olkin. Total n = 998; n PSD = 581; n PCD = 417.
Ainda, na Tabela 2, os dados indicam que houve tamanho adequado da amostra para os procedimentos adotados para análise fatorial em todas as dimensões do ACF (KMO > 0.77; P < 0.05 e Barlett P < 0.05). Por fim, a consistência interna obteve valores significativos e superiores a 0.89 para todos os itens das dimensões do ACF de PCD e 0.81 para PSD, ademais, os escores de reprodutibilidade foram superiores a 0.80 para as duas populações.
Por fim, a Figura 2 demonstra que tanto para o grupo PCD, quanto para o grupo PSD, as medidas de α foram de adequadas a elevadas (α= 0.81-0.92) e, para o grupo PSD obteve-se ICC= 0.79-0.93, enquanto o grupo PCD demonstrou ICC= 0.83-0.93.
Figura 2. Medidas de reprodutibilidade (n = 823; PSD = 419; PCD = 404) e de fidedignidade (n = 998; PSD = 581; PCD = 417) das dimensões do Autoconceito físico, do instrumento"Physical Self-Description Questionnaire - Short", em adultos brasileiros. α: Alpha de Cronbach; CCI: Coeficiente de Correlação Intraclasse; IC 95%: Intervalo de confiança de 95%. Reprodutibilidade: n Total: 823; n PSD: 419; n PCD = 404; Fidedignidade: n Total: 998; n PSD: 581; n PCD: 417.
Quando comparados os resultados obtidos no presente estudo entre PSD e PCD, medidas de consistência interna das dimensões flexibilidade, saúde, coordenação, competência esportiva e autoestima foram maiores para PCD, enquanto aparência, força, resistência, gordura corporal, exercício físico e autoconceito físico global foram maiores para PSD. Nesse prisma, é possível que a variação entre as dimensões para as duas populações seja decorrente da diferente contextualização do ACF, bem como do retorno que este tem de suas capacidades provindas do meio externo.
Discussão
Os dados demonstram que o ACF apresentou carga fatorial adequadas em todas as declarações para as duas populações, variando entre 0.77-0.90. Em estudos que averiguaram medidas de validade7-9, os resultados demonstraram carga fatorial de 0.55-0.86, estando os valores obtidos no presente estudo adequados a literatura atual.
O estudo identificou que as declarações obtiveram cargas fatoriais diferentes para as duas populações, porém em todos os casos os valores foram >0.77. Ademais, observou-se que para as duas populações a compreensão do PSDQ-S foi a mesma. Nesse sentido, ressalta-se que, através das medidas obtidas, todas as declarações permaneceram nas respectivas dimensões do instrumento original3.
A consistência interna obtida no estudo para as duas populações obteve resultados semelhantes à literatura7-10, demonstrando α entre 0.70-0.91. Quanto à reprodutibilidade para as medidas do ACF, estas demonstraram-se adequadas, obtendo escore entre 0.79-0.93 para PSD e, 0.83-0.93 para PCD. Nesse sentido, ao comparar os dados de reprodutibilidade do obtidos em outros estudo7,11-13, é possível identificar que os valores do presente estudo foram superiores.
O presente estudo destaca como relevância, o tamanho amostral, em especial do grupo PCD. Ademais, a instrumentalização de um mesmo questionário para analisar o ACF de pessoas brasileiras com e sem deficiência física possibilitará que se elucidem teorias e estudos em torno deste constructo. Como limitações, o presente estudo não conseguiu identificar outros estudos que validassem questionários para pessoas com e sem deficiência física, tornando mais complexo o processo de discussão dos resultados obtidos.
Nesse prisma, os resultados do estudo demonstraram que o instrumento PSDQ-S demonstrou-se válido e, possui estabilidade temporal e consistência interna para avaliar brasileiros adultos, com e sem deficiência física, sendo este instrumento recomendado para a utilização com tais populações. Ressalta-se a necessidade de averiguar as duas populações separadamente pela possível diferença na percepção do ACF entre tais grupos. Por fim, sugere-se que seja validado um instrumento para analisar o ACF de pessoas com deficiência intelectual e sensorial.
Autoria. Todos os autores contribuíram intelectualmente no desenvolvimento do trabalho,assumiram a responsabilidade do conteúdo e, da mesma forma, concordam com a versão final doartigo. Financiamento. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Agradecimentos. Os autores agradecem o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, do Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física UEM/UEL e do Grupo de Estudos em Atividade Física, Psicologia e Saúde – GEAPS. . Conflito de interesses. Os autores declaram não haver conflito de interesses. Origem e revisão. Não foi encomendada, a revisão foi externa e por pares. Responsabilidades Éticas. Proteção de pessoas e animais: Os autores declaram que os procedimentos seguidos estão de acordo com os padrõeséticos da Associação Médica Mundial e da Declaração de Helsinque. Confidencialidade: Os autores declaram que seguiram os protocolos estabelecidos por seus respectivos centros para acessar osdados das histórias clínicas, a fim de realizar este tipo de publicação e realizar uma investigação / divulgação para a comunidade. Privacidade: Os autores declaram que nenhum dado que identifique o paciente aparece neste artigo.
Bibliografía
∗ Autor para correspondência.
Correios eletrónicos: juniorarnaldoef@gmail.com (A. Vaz Junior).
https://doi.org/10.33155/j.ramd.2020.02.004
Consejerı́a de Educación y Deporte de la Junta de Andalucı́a. Este é um artigo Open Access sob uma licença CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/)