Rev Andal Med Deporte. 2020; 13(1): 25-28

 

Revista Andaluza de

Medicina del Deporte

 

https://ws208.juntadeandalucia.es/ojs

 

 

Original

Controle postural em atletas de esportes coletivos de salto versus sem características de salto: um estudo comparativo

F. O. da Silva Pasqualia, A. Arenda, S. Larab, L. P. Teixeirac

a Acadêmico do curso Fisioterapia. Universidade Federal do Pampa. Brasil.
b Fisioterapeuta. Mestre em Fisiologia humana. Doutora em Educação em Ciências: química da vida e saúde. Docente do curso de Fisioterapia. Universidade Federal do Pampa. Brasil.
c Fisioterapeuta do curso de Fisioterapia. Universidade Federal do Pampa. Brasil.

 

INFORMAÇãO sobre o artigo: Recebido a 17 de julho de 2019, aceite a 18 de setembro de 2019, online a 1 de outubro de 2019

 

 

RESUMO

Objetivo: Comparar o controle postural de atletas jovens de esportes coletivos de salto versus sem características de salto, a fim de identificar possíveis diferenças entre os grupos.

Método: Esse estudo transversal incluiu uma amostra por conveniência, composta por atletas amadores do sexo masculino, das categorias Sub-15 e Sub-17, que estavam em competição. Os atletas foram alocados em dois grupos: grupo salto (N=46), constituído por atletas de voleibol, basquetebol e handebol; e o grupo sem características de salto, formado pelos atletas que não tinham o salto como gesto motor característico (futebol e futsal, N=44). A avaliação do controle postural foi realizada através da Posturografia Dinâmica Computadorizada, no qual foram realizados os Testes de Organização Sensorial (TOS), divididos em seis condições, análise dos sistemas responsáveis pela manutenção do controle postural (visual, vestibular e somatossensorial) e o Teste em apoio unipodal. Para a análise estatística, foi utilizada estatística descritiva e o teste de Mann-Whitney foi usado para comparação intergrupos.

Resultados: Não houve diferenças significativas entre os grupos nas condições sensoriais dos TOS e na Análise dos Sistemas Sensoriais. Contudo, os atletas de salto apresentaram uma maior oscilação postural na avaliação do equilíbrio unipodal (0.99±0.50°/s.), em relação ao grupo sem características de salto (0.75±0.28°/s.), demonstrando um pior controle postural (p= 0.02).

Conclusão: Os resultados sugerem diferenças do controle postural em apoio unipodal entre os grupos, indicando a importância de direcionar programas de treinamento e prevenção específicos a cada modalidade esportiva, considerando o gesto motor característico e os aspectos maturacionais inerentes aos atletas jovens.

Palavras-chave: Equilíbrio postural; Esportes; Atletas.

 

Control postural en atletas de salto de deportes colectivos versus sin características de salto: un estudio comparativo

RESUMEN

Objetivo: Comparar el control postural de atletas jóvenes de deportes colectivos de salto versus sin características de salto, a fin de identificar posibles diferencias entre los grupos.

Método: Este estudio transversal incluyó una muestra por conveniencia, compuesta por atletas aficionados del sexo masculino, de las categorías Sub-15 y Sub-17, que estaban en competencia. Los atletas fueron asignados en dos grupos: grupo salto (N = 46), constituido por atletas de voleibol, baloncesto y balonmano; y el grupo sin características de salto, constituido por los atletas que no tenían el salto como gesto motor característico (fútbol y fútbol sala, N = 44). La evaluación del control postural fue realizada a través de la Posturografía Dinámica Computadorizada, en el cual se realizaron las Pruebas de Organización Sensorial (TOS), divididas en seis condiciones y análisis de los sistemas responsables del mantenimiento del control postural (visual, vestibular y somatosensorial) y la prueba en apoyo unipodal. Para un análisis estadístico, utilice estadísticas descriptivas y el testimonio de Mann-Whitney para comparar intergrupos.

Resultados: No hubo diferencias significativas entre los grupos en las condiciones sensoriales de los TOS y en el Análisis de los Sistemas sensoriales. Sin embargo, los atletas de salto presentaron una mayor oscilación postural en la evaluación del equilibrio unipodal (0.99±0.50°/s.), en relación al grupo sin características de salto (0.75±0.28°/s.), demostrando un peor control postural (p= 0.02).

Conclusión: Los resultados encontrados sugieren diferencias del control postural en apoyo unipodal entre los grupos, indicando la importancia de dirigir programas de entrenamiento y prevención específicos a cada modalidad deportiva, considerando el gesto motor característico y los aspectos maduracionales inherentes a los atletas jóvenes.

Palabras clave: Equilibrio postural, Deportes, Atletas.


Postural control in athletes of jump team sports versus without jump features: a comparative study

ABSTRACT

Objective: To compare the postural control of young athletes of jump team sports versus without jump characteristics, in order to identify possible differences between groups.

Method: This cross-sectional study included a convenience sample of male amateur athletes from the Sub-15 and Sub-17 categories, who were in current competition. The athletes were allocated in two groups, the jump group (N = 46), consisting of athletes of volleyball, basketball and handball; and the group without jump characteristics, consisting of athletes who did not have the jump as a characteristic motor gesture (soccer and futsal, N = 44). The evaluation of the postural control was performed through Computerized Dynamic Posturography, in which the Sensory Organization Tests (TOS) were divided into six conditions and of the systems responsible for maintaining the control postural (visual, vestibular and somatosensory) and the Test in unipodal support. For statistical analysis, descriptive statistic was used, and the Mann-Whitney test was used for intergroup comparison.

Results: There were no significant differences between the groups in the sensory conditions of the TOS and in the Analysis of Sensory Systems. However, jump athletes had a greater postural oscillation in the assessment of unipodal balance (0.99±0.50°/s.), compared to the group without jump characteristics (0.75±0.28°/s.), demonstrating worse postural control (p= 0.02).

Conclusion: The results suggest differences in postural control in unipodal support between groups, indicating the importance of directing training and prevention programs specific to each sport modality, considering the characteristic motor gesture and the maturational aspects inherent to young athletes.

Keywords: Postural balance; Sports; Athletes.

 

Introdução

O salto representa uma importante habilidade, uma vez que está diretamente relacionada ao rendimento esportivo dos atletas de modalidades como basquetebol, voleibol, handebol, atletismo, entre outras. Nesse aspecto, um dos principais objetivos de treinamento para tais modalidades esportivas, é o desenvolvimento de saltos mais altos pelos atletas1.

Para o desempenho do salto vertical, é necessária a interação de alguns elementos, como a produção de força muscular de forma rápida e explosiva2 e um adequado controle postural. Esse controle é necessário para que o atleta consiga executar o gesto esportivo com uma maior precisão, tendo em vista a exigência neuromotora em função do esporte3.

Presente em todo e qualquer movimento, o controle postural possui três modalidades de orientação postural, incluindo a propriocepção, expropriocepção e exterocepção, e integra informações, via sistema nervoso central (SNC), dos sistemas visuais, vestibulares e somatossensoriais4. A propriocepção é composta de um conjunto de informações sensoriais, recebidas através de mecanorreceptores articulares, ligamentos, músculos, tendões e pele, que, via controle do SNC, fornecem informações sobre a posição dos segmentos corporais no espaço e padrão de movimento. Esse mecanismo é essencial para a correção do gesto motor, e assim, interfere diretamente no rendimento do atleta5. Cabe destacar que a alta demanda de saltos pode levar à sobrecarga nos tecidos osteomusculares citados, desenvolvendo micro lesões, e, consequentemente, reduzindo o controle postural do atleta6.

Considerando que o déficit no controle postural é um fator de risco para lesão, é importante avaliar essa variável no esporte, a fim de evitar o surgimento de lesões, bem como subsidiar a construção de programas de prevenção de lesões. De fato, esses programas preventivos podem reduzir a taxa de lesões em cerca de 40% no esporte em atletas jovens7, além de melhorar o rendimento esportivo8.

Porém, é importante avaliar o equilíbrio postural considerando as características específicas dos gestos realizados no esporte, uma vez que são diferentes entre si, pois, por exemplo, enquanto um atleta de handebol pode executar aproximadamente 90 saltos em um jogo9, um jogador de futebol realiza apenas nove saltos10, e tais características podem interferir no controle postural desses atletas. Ademais, identificar possíveis particularidades em relação ao controle postural entre as modalidades esportivas pode auxiliar a fomentar estratégias de treinamento e prevenção no esporte.

Assim, o objetivo desse estudo foi comparar o controle postural em atletas jovens de esportes coletivos de salto versus sem características de salto, a fim de identificar possíveis diferenças entre os grupos. A nossa hipótese é que, devido às sobrecargas repetitivas geradas pela alta demanda de saltos no primeiro grupo, estes tenham um pior controle postural em relação ao segundo.

 

Método

Amostra

Esse estudo transversal e descritivo incluiu uma amostra por conveniência, composta por atletas amadores das categorias masculinas Sub-15 e Sub-17, das modalidades de voleibol, basquetebol, handebol, futsal e futebol de campo que estavam em competição atual a nível estadual. As avaliações foram realizadas nos períodos de pré-temporada e no início de temporada. Para tanto, os mesmos deveriam ser do sexo masculino, praticar a modalidade por um período mínimo de 03 meses e estar em treinamento regular no time. Os critérios de exclusão adotados foram: presença de lesões prévias nos membros inferiores, nos últimos seis meses e histórico de cirurgia ortopédica nos membros inferiores. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa institucional (número 2.351.616), e os responsáveis legais assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), e os atletas assinaram um termo de assentimento. Dados para caracterização da amostra foram coletados por meio de um questionário (idade, dominância, tempo de treinamento), bem como foram avaliados dados antropométricos (massa corporal e estatura).

Os atletas foram alocados em dois grupos, sendo o grupo salto (atletas que praticavam o voleibol, basquetebol e handebol, N=46) e o grupo sem características de salto, constituído pelos atletas que não tinham o salto como gesto motor característico (futsal e futebol de campo, N=44), e a caracterização da amostra está presente na tabela 1.

 

Tabela 1. Caracterização da amostra

Variável

Grupo salto

Grupo sem características de salto

P

N

46

44

-

Idade (anos)

15.02±1.10

14.98±1,17

0.68

Massa (Kg)

67.64±13.27

63.12±10.47

0.12

Estatura (m)

1.73±0.08

1.67±0.06

<0.01*

Dados descritivos, média e desvio padrão DP±

 

Instrumentos

O equilíbrio postural dos atletas foi avaliado através da Posturografia por plataforma dinâmica computadorizada (sistema EquiTest® - versão 4.1, NeuroCom International, Inc). Para esta avaliação, os atletas permaneceram em posição ortostática, sobre a plataforma de força, com um cinto de segurança próprio do aparelho para evitar possíveis quedas, e foram instruídos a manter os braços soltos ao lado do corpo, os pés levemente afastados e imóveis, olhando para frente.

A avaliação seguiu os critérios estabelecidos pela NeuroCom, empresa fabricante do Equitest, através dos seguintes testes:

- Teste de organização sensorial (TOS): Fornecem dados quantitativos a respeito da funcionalidade dos três sistemas informantes do equilíbrio, possuindo seis condições, submetendo os indivíduos a diferentes informações sensoriais11:

Além das seis condições dos TOS, o teste nos dá o valor de composite, ou seja, o índice geral do equilíbrio. Por meio da avaliação dos TOS, é possível realizar uma análise sensorial do equilíbrio, através da razão entre as médias de uma condição sobre a outra, assim sendo: sistema somatossensorial (TOS2/TOS1), o sistema visual (TOS4/TOS1) e o sistema vestibular (TOS5/TOS1);

- Teste unilateral (unilateral stance): quantifica a velocidade da oscilação ( ̊/ s) com o indivíduo em pé em uma perna sob quatro condições: 1) perna direita com abertura olhos, 2) perna direita com olhos fechados, 3) perna esquerda com olhos abertos e 4) perna esquerda com olhos fechados; no qual valores maiores indicam maiores instabilidades posturais12. Neste estudo optou-se por apresentar os dados do teste unipodal utilizando a nomenclatura de membro inferior dominante e não-dominante, definido por meio de auto relato do atleta. Assim, nos atletas do grupo sem características de salto a perna que realizava o chute era a escolhida, e nos atletas do grupo salto a perna de preferência era a de aterrissagem unipodal.

 

Análise dos dados

Para a análise estatística, utilizou-se o programa SPSS, versão 20.0, com análise descritiva, por meio de medidas de média e desvio padrão. Para testar a normalidade dos dados, foi realizado o teste Shapiro-Wilk, indicando amostra não normal. Desta forma, foi realizado o teste de Mann-Whitney para comparação intergrupos. Para todas as análises foi considerado um nível de significância inferior a 0,05.

 

Resultados

 

As variáveis do controle postural dos atletas estão presentes na tabela 2, no qual podemos observar que não houve diferenças significativas entre os grupos nas condições dos TOS e na análise dos sistemas sensoriais.

 

Tabela 2. Comparação do controle postural entre os atletas de salto versus sem características de salto

Variável

Grupo salto

Grupo sem características de salto

P

Teste de Organização Sensorial

 

 

 

TOS I

94.54 ± 2.01

94.81±1.75

0.58

TOS II

92.49 ± 3.13

93.49±2.32

0.21

TOS III

90.68 ± 6.06

92.02±3.76

0.25

TOS IV

85.21 ± 6.03

84.67±6.82

0.73

TOS V

56.63 ± 15.26

60.63±14.46

0.22

TOS VI

59.05± 15.51

64.84±12.11

0.11

Composite

75.86± 6.57

77.93±6.49

0.17

Sistemas sensoriais

 

 

 

Somatossensorial

0.97±0.02

0.98±0.01

0.24

Visual

0.89±0.06

0.88±0.06

0.47

Vestibular

0.59±0.15

0.63±0.15

0.21

TOS:Teste de Organização Sensorial; Valores dos TOS e dos sistemas sensoriais expressos em percentagem.

 

Os dados sobre o equilíbrio unipodal estão presentes na tabela 3, no qual percebemos uma diferença entre os grupos no membro inferior dominante na condição de olhos abertos (p=0.02), mostrando que os atletas de salto apresentaram uma maior oscilação postural nessa variável.

 

Tabela 3. Comparação do equilíbrio unipodal entre os atletas de salto versus sem características de salto

Variável

Grupo salto

Grupo sem características de salto

P

MD olhos abertos

0.99±0.50

0.75±0.28

0.02*

MD olhos fechados

1.71±0.73

1.73±1.19

0.61

MND olhos abertos

0.91±0.37

0.74±0.19

0.08

MND olhos fechados

1.68±0.64

1.82±1.19

0.85

MD: Membro dominante; MND: Membro não-dominante. Valores do teste unilateral expressos em °/s.

 

Discussão

 

O presente estudo analisou, de forma comparativa, o controle postural entre atletas jovens de esportes coletivos de salto versus sem características de salto. De acordo com os resultados, não houve diferença significativa entre os grupos quanto às condições sensoriais dos TOS e dos sistemas sensoriais. Contudo, os atletas de salto apresentaram pior controle postural no teste unipodal, comparado aos atletas do grupo sem características de salto.

Sugere-se que os TOS não foram sensíveis o suficiente para identificar diferenças entre os grupos, uma vez que avaliam o equilíbrio do indivíduo em apoio bipodal, e, portanto, nessa posição os atletas podem não ter sido provocados o bastante, conforme sugerem Moraes et al.13. Para esses autores13, o apoio unipodal pode ser mais apropriado para oferecer informações adicionais na avaliação funcional do equilíbrio, uma vez que o indivíduo pode não ser suficientemente desafiado em posição bipodal.

Além disso, não foram identificadas diferenças em relação aos sistemas sensoriais entre os grupos de atletas avaliados. Em relação a esses sistemas, cabe ressaltar que os jovens do estudo (categorias Sub-15 e Sub-17) ainda estão em fase de maturação, conforme indicam Paniccia et al.14. Esses autores incluíram 889 atletas saudáveis, de 9 a 18 anos de idade, de ambos os sexos, e encontraram que o controle postural melhorou significativamente com a idade, nos jovens atletas avaliados (de 13 a 18 anos). Ademais, Coleman & Roker15 indicam que alterações no controle postural ocorrem nesses jovens, também devido ao aumento da estatura e ganho acentuado da massa muscular, observada principalmente nos meninos.

No presente estudo, na análise do equilíbrio unipodal, foi encontrada uma diferença entre os grupos no membro inferior dominante na condição de olhos abertos, evidenciando que os atletas de salto apresentaram uma maior oscilação postural, e, portanto, um pior equilíbrio.

Com o objetivo de comparar o controle postural entre modalidades esportivas femininas adultas, Bressel et al.16 identificaram que jogadores de basquete apresentaram um equilíbrio dinâmico inferior em comparação às atletas de futebol. Estes resultados se assemelham aos do nosso estudo, exceto pelo fato de que incluímos atletas jovens do sexo masculino. Os autores sugerem que tais diferenças, encontradas entre atletas de basquete e futebol ocorram pelos desafios sensório-motores, inerentes à cada modalidade, uma vez que no futebol, o jogador é mais desafiado em posição unipodal do que o atleta de basquete, já que, geralmente realiza, em apoio unipodal, movimentos fora de sua base de suporte durante passes, recepções de bola e tiros. Portanto, os autores acreditam que desafios sensório-motores específicos, em vez de apenas desafios gerais da atividade esportiva, são importantes para o desenvolvimento do equilíbrio, e, logo, podem auxiliar a justificar as diferenças encontradas entre os grupos de atletas em nosso estudo.

Por outro lado, Halabchi et al.17 não identificaram diferenças no controle postural entre jogadores de futebol e de basquete masculino (média de 19 anos). Esses resultados divergem em relação aos nossos achados, muito provavelmente por diferenças importantes entre eles, já que, em nosso trabalho foram incluídos atletas jovens em fase de maturação dos sistemas sensoriais, bem como atletas que atuam em nível de competição amador. Já o trabalho de Halabchi et al.17 incluiu atletas mais velhos (19 anos) e que atuam em nível profissional, e esse fator é relevante, ao passo que o nível de competição interfere sobre o controle postural, conforme indicam Jadczak et al.18. Esses autores encontraram, em atletas de futebol, que o nível de competição interferiu no equilíbrio dos mesmos, ou seja, os atletas profissionais apresentaram um controle postural superior do que os demais grupos em nível competitivo menor.

A análise do controle postural em atletas jovens se faz relevante, uma vez que está associada à identificação de risco de lesão, como evidenciou o estudo de McGuine et al19. Esses autores demonstraram que, em jogadores de basquete jovens, a avaliação do equilíbrio na pré-temporada, avaliada por meio da plataforma dinâmica, serviu como um preditor de suscetibilidade a lesões como entorse de tornozelo, no qual indivíduos que apresentaram pior equilíbrio, tiveram cerca de sete vezes mais entorse de tornozelo do que indivíduos com bom equilíbrio. Assim, em nosso estudo, identificamos escores de oscilação mais altos nos jogadores de salto do que os que não tem o salto como gesto característico, sugerindo que esses atletas apresentam maior risco de desenvolvimento de lesão. Esse resultado pode alertar treinadores, preparadores físicos e fisioterapeutas que trabalham com esportes coletivos que envolvem salto, a inserirem em seu treinamento preventivo, atividades que desenvolvam o controle postural dos atletas.

Além disso, saltos precisos e controlados são necessários para um adequado desempenho em atletas de esportes coletivos como basquetebol, voleibol e handebol. Porém, o salto vertical é um movimento complexo que depende dos três componentes do sistema proprioceptivo (força, tempo e espaço), contudo, em atletas jovens, tais componentes ainda estão em fase de maturação20. Além disso, autores colocam que a dominância de membro inferior também pode contribuir para um maior risco de lesão21, já que, frequentemente, o membro dominante experimenta forças demasiadamente altas, devido ao fato de o indivíduo depender mais deste membro em situações de alta geração de força, como por exemplo, a realização de saltos e aterrisagens unipodais. Corroborando, Ferreira et al.22 reiteram que, ao utilizar um membro mais do que o outro, submetemos o mesmo à um maior estresse mecânico, e tais sobrecargas repetitivas podem gerar lesões.

Tais fatores denotam a importância de uma abordagem preventiva com os atletas, que inclua um trabalho de equilíbrio e propriocepção, a fim de auxiliar não somente na redução de lesão, mas também sobre o desempenho esportivo. Nesse contexto, trabalhos reportam efeitos importantes de programas de prevenção de lesão em atletas jovens de salto 23,24.

Como limitações do estudo, podemos citar a não familiarização dos atletas com a posturografia dinâmica computadorizada e a falta de um cálculo amostral, para permitir resultados mais conclusivos.

Por fim, o estudo evidenciou diferenças no controle postural entre os atletas avaliados, sendo que os atletas de salto apresentaram pior equilíbrio em apoio unipodal do que os que não tinham o salto como gesto motor característico. Com base nesse aspecto, ações preventivas são necessárias, especialmente voltadas para atletas que praticam esportes coletivos que envolvem saltos. Ademais, sugerimos que mais estudos possam ser realizados para permitir comparações do controle postural entre as modalidades esportivas, a fim de direcionar programas de treinamento e prevenção específicos a cada esporte, considerando os aspectos maturacionais inerentes aos atletas jovens.

 


Autoria. Todos os autores contribuíram intelectualmente no desenvolvimento do trabalho,assumiram a responsabilidade do conteúdo e, da mesma forma, concordam com a versão final doartigo. Financiamento. Sem apoio financeiro. Conflito de interesses. Os autores declaram não haver conflito de interesses. Origem e revisão. Não foi encomendada, a revisão foi externa e por pares. Responsabilidades Éticas. Proteção de pessoas e animais: Os autores declaram que os procedimentos seguidos estão de acordo com os padrõeséticos da Associação Médica Mundial e da Declaração de Helsinque. Confidencialidade: Os autores declaram que seguiram os protocolos estabelecidos por seus respectivos centros para acessar osdados das histórias clínicas, a fim de realizar este tipo de publicação e realizar uma investigação / divulgação para a comunidade. Privacidade: Os autores declaram que nenhum dado que identifique o paciente aparece neste artigo.


 

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Autor para correspondência.

Correios eletrónicos: slarafisio@yahoo.com.br (S. Lara).

 

https://doi.org/10.33155/j.ramd.2019.09.007

Consejerı́a de Educación y Deporte de la Junta de Andalucı́a. Este é um artigo Open Access sob uma licença CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/)