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Revista Andaluza de Medicina del Deporte
https://ws208.juntadeandalucia.es/ojs |
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Revisión Efeitos da periodização em blocos sobre parâmetros fisiológicos e desempenho de contrarrelógio em atletas de endurance: uma revisão sistemática F. K. Borszcz, V. P. Costa Laboratório de Pesquisas em Desempenho Humano. Centro de Ciências da Saúde e do Esporte. Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis. Brasil. INFORMAÇãO sobre o artigo: Recebido a 12 de março de 2018, aceite a 11 de junho de 2018, online a 22 de março de 2019 |
RESUMO |
Objetivo: O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão sistemática sobre os efeitos da periodização em blocos nos parâmetros fisiológicos e no desempenho em atletas de endurance. Método: Foram realizadas buscas nas bases de dados PubMed e Science Direct. Resultados: Foram encontrados 9 estudos que se enquadraram nos critérios desta revisão, onde blocos de 1-2 semanas, compostos por 5-16 sessões de treinamento de alta intensidade, seguido por um período de 1-3 semanas de recuperação demonstraram ganhos nas variáveis consumo máximo de oxigênio, limiares de lactato/ventilatórios, potência aeróbia máxima e no desempenho em atletas de endurance. Conclusões: A periodização em blocos é uma estratégia eficiente para ganhos no desempenho e nos parâmetros fisiológicos em curtos períodos. Palavras-chave: Desempenho; Periodização; Resistência Física. |
Efectos de la periodización en bloques en los parámetros fisiológicos y el rendimiento de contrarreloj en deportistas de resistencia: una revisión sistemática RESUMEN |
Objetivo: El propósito de este estudio fue analizar los efectos de la periodización en bloques, en los parámetros fisiológicos y en el rendimiento en deportistas de resistencia. Método: Se realizó una búsqueda en las bases de datos PubMed y Science Direct. Resultados: Se encontraron 9 estudios que cumplían con los criterios de esta revisión, donde los bloques de 1-2 semanas con 5-16 sesiones de entrenamiento de alta intensidad, seguido de un período de 1-3 semanas de tapering, fueron suficientes para demostrar mejoras de la potencia aeróbica máxima, el consumo máximo de oxígeno, los umbrales fisiológicos y el rendimiento. Conclusiones: La periodización en bloques puede mejorar rápidamente la fisiología y el rendimiento en los deportistas de resistencia. Palabras clave: Rendimiento deportivo; Periodización; Resistencia física. |
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Physiological and time-trial performance effects of block training periodization in endurance athletes: a systematic review ABSTRACT |
Objective: The aim of this study was to analyze systematically the effects of block training periodization, on physiology parameters and performance in endurance athletes. Method: The PubMed and Science Direct database was used to search. Results: Nine studies was found that fit the criteria of this review, the main result was that block training periodization performed during 1-2 weeks composed of 5-16 high intensity interval training sessions followed by a period of 1-3 weeks of taper enhance maximal oxygen uptake, lactate/ventilatory thresholds, maximal aerobic power and performance in endurance athletes. Conclusions: The block training periodization can rapidly enhance physiology and performance in endurance athletes. Keywords: Performance; Periodization; Physical endurance. |
Introdução
A periodização do treinamento consiste no sequenciamento intencional de diferentes sessões de treino, com o objetivo dos atletas alcançarem os resultados planejados1. Na década de 1950 o russo Leev Pavlovtchi Matveev propôs um modelo de periodização fundamentado na teoria da Síndrome Geral da Adaptação, atualmente chamado de periodização tradicional (PT)1. Porém, algumas críticas surgiram a respeito dos conceitos da proposta de Matveev, os críticos acreditam que a PT não se adéqua ao calendário de competições das diversas modalidades do esporte contemporâneo, pois, é incapaz de fornecer diversos picos de performance durante a temporada e também procura desenvolver um elevado número de capacidades físicas simultaneamente, que muitas vezes podem interagir de forma conflitante1,2.
Dentre as novas propostas de modelos de periodização, na década de 80 surgiram os modelos de periodização de carga concentrada, denominados de modelos de periodização em blocos (PB)1. A principal característica da PB está no fato de que as cargas de trabalho são concentradas por um período curto de tempo e objetivam o desenvolvimento de um número mínimo de capacidades físicas importantes para a modalidade em blocos específicos1. Basicamente a PB é dividida em 3 blocos (mesociclos) de treinamento, sendo o Bloco de Acumulação voltado ao treinamento de habilidades básicas da modalidade (ex. treinos de capacidade aeróbia), no Bloco de Transformação os treinos são voltados as habilidades especificas da modalidade (ex. treinamento de alta intensidade), já no Bloco de Realização é o período definido como a preparação para a competição (tapering3) ou recuperação dos efeitos cumulativos do bloco anterior1.
A premissa da PB é promover o efeito cumulativo do treinamento que se reflete em alterações das variáveis fisiológicas e no desempenho dos atletas1, bem como nos efeitos residuais do treinamento, ou seja, por quanto tempo os atletas se mantém com ganhos obtidos pelo treinamento1. Sendo assim, o modelo PB pode induzir um estado de estresse aumentado sobre o organismo dos atletas1,2,4, levando a um estado de fadiga aguda ou overreaching funcional e posteriormente com períodos adequados de recuperação a ganhos de desempenho. O overreaching funcional tem sido definido como a relação entre estímulo/estresse de treinamento que resulta em um curto declínio nas medidas fisiológicas e de desempenho e quando seguido por um período de recuperação adequado promove a supercompensação ao organismo e eleva o nível de desempenho5, enquanto que um estado de fadiga aguda caracteriza-se por um aumento na percepção de cansaço, mas não há um declínio nas medidas de desempenho6.
Durante a periodização das modalidades de endurance é importante combinar o treinamento de alta e baixa intensidade7, sendo a distribuição apontada como adequada o modelo polarizado, onde 80% do volume de treinamento é realizado em baixa intensidade e 20% em alta intensidade8. Devido a esse grande volume de treinamento em baixa intensidade que os atletas executam parece que melhorias no desempenho só podem ser alcançadas por metodologias de treinamento intensas como, por exemplo, o treinamento intervalado de alta intensidade (TIAI)9. O TIAI tem apresentado superioridade para os ganhos de capacidade oxidativa muscular, expressão do gene mitocondrial, nos parâmetros fisiológicos, consumo máximo de oxigênio (VO2max), limiares de transição fisiológica (LTF) e principalmente no desempenho comparado ao treino continuo de baixa intensidade7,9–12. Porém, quando o TIAI realizado conforme a PT com 1 a 3 sessões semanais os ganhos nos parâmetros fisiológicos e no desempenho são obervados após 4 a 6 semanas de treinamento9,11. Por outro lado, na PB o TIAI é realizado em vários dias consecutivos o que teoricamente poderia levar os atletas a ganhos mais rápidos devido a concentração das cargas.
Nos últimos anos uma série de estudos experimentais foram conduzidos a respeito da PB, assim, acredita-se que se torna necessário descrever com detalhes os efeitos fisiológicos e no desempenho esportivo que esta metodologia de treinamento pode promover em atletas. Desta forma, a presente revisão tem como objetivo analisar e descrever os estudos científicos que verificaram os efeitos da PB, sobre as variáveis fisiológicas determinantes da performance aeróbia13–15 VO2max, LTF, economia de movimento (EC), carga máxima do teste de esforço incremental (Pmax), bem como no desempenho em contrarrelógio em atletas das modalidades esportivas cíclicas de endurance.
Método
Busca na literatura
A presente revisão foi elaborada seguindo o guideline para revisões sistemáticas PRISMA16. As buscas na literatura foram realizadas nas bases de dados PubMed e Science Direct, utilizando as palavras-chaves da língua inglesa “block training periodization” (periodização do treinamento em blocos), “shock microcycle” (microciclo de choque) e “training periodization” (periodização do treinamento). A busca foi realizada no mês de setembro de 2017. As referências dos estudos encontrados nas bases de dados foram analisadas a fim de se ampliar a busca. Após as buscas os estudos foram alocados no aplicativo online Rayyan17, onde a seleção dos estudos foi realizada. No aplicativo foi possível selecionar estudos por título e resumo utilizando palavras chave para identificação dos estudos elegíveis e inelegíveis, no aplicativo foram identificados ainda os estudos duplicados. Durante o processo de seleção, os estudos foram inseridos em pastas com os motivos de inclusão e exclusão.
Critérios de elegibilidade
Para ser incluso na presente revisão o estudo deveria ser (a) publicado em periódico cientifico, (b) com no mínimo 5 sujeitos na amostra, (c) os sujeitos deveriam ter o VO2max maior que 55 mL/Kg/min e (d) sendo as modalidades esportivas cíclicas de endurance. Os estudos sobre treinamento de força foram excluídos.
Extração dos dados
Para a extração dos dados a estratégia PICOS16 foi utilizada, sendo os dados extraídos dos estudos: número de sujeitos, sexo, modalidade esportiva, desenho experimental, tipo de treino e os resultados para as variáveis: VO2max, Pmax, LTF, EC e desempenho de contrarrelógio.
Qualidade dos estudos
Para verificar a qualidade dos estudos a escala PEDro (Physiotherapy Evidence-Based Database scale)18 foi utilizada, onde quanto maior a quantidade de pontos melhor é a qualidade do estudo, o escore máximo da escala é de 11 pontos.
Resultados
Seleção dos estudos
A seleção dos estudos foi realizada de forma independente pelos 2 autores desta revisão por meio do aplicativo Rayyan, a seleção dos estudos de cada autor foi confrontada, durante o processo de seleção não houve discordância entre a seleção final dos estudos de cada autor. Após a busca com os descritores nas bases de dados foram encontrados 751 estudos, onde foram aplicados os critérios de inclusão e remoção dos estudos duplicados. O processo de seleção dos estudos é apresentado na Figura 1.
Figura 1. Processo de seleção dos estudos.
Características gerais dos estudos
Na Tabela 1 são apresentados os dados de caracterização dos sujeitos, as modalidades esportivas e o desenho experimental dos estudos. Foram encontrados 9 estudos que se enquadraram nos critérios de inclusão da presente revisão, sendo 2 estudos na modalidade triatlo19,20, 4 no ciclismo21–24, 2 no esqui cross-country (XCO)25,26 e 1 na canoagem27.
Tabela 1. Desenho experimental dos estudos selecionados.
Referência |
Esporte |
n, sexo |
Desenho do estudo |
||||
PB |
PT/GC |
||||||
Bloco A |
Bloco T |
Bloco R (tapering) |
|
||||
Zinner et al.(19) |
Triatlo |
13 M |
|
2 semanas; 16 x TIAI |
2 semanas; ? |
|
|
Wahl et al.(20) |
Triatlo |
16 M/ F |
|
2 semanas; 15 x TIAI |
1 semana; ? |
|
|
Clark et al.(21) |
Ciclismo |
19 M |
7 dias; TBI |
7 dias; 7 sessões TIAI |
14 dias; TBI |
|
|
9 M |
|
|
|
GC, 3 semanas; TBI |
|||
Costa et al.(22) |
Ciclismo |
10 M |
|
7 dias; 7 sessões TIAI |
14 dias; TBI |
|
|
|
|
10 M |
|
|
|
GC, 3 semanas; TBI |
|
Rønnestad et al.(23) |
Ciclismo |
10 M |
|
1 semana; 5 x TIAI |
3 semanas; TBI + 1 x TIAI/semana |
|
|
9 M |
|
|
|
PT, 4 semanas; 2 x TIAI/ semana |
|||
Rønnestad et al.(24)
|
Ciclismo |
8 M |
|
3 x 1 semana; 5 x TIAI/ semana |
3 x 3 semanas; TBI + 1 x TIAI/semana |
|
|
7 M |
|
|
|
PT, 12 semanas; 2 x TIAI/semana |
|||
Rønnestad et al.(25) |
Esqui XCO |
10 M/F
|
|
5 dias; 5 x TIAI |
3 semanas; 1-3 x TIAI/semana |
|
|
9 M/F |
|
|
|
PT, 5 semanas; 1-3 x TIAI/semana |
|||
McGawley et al.(26) |
Esqui XCO |
20 M/F |
1 semana; 4 x TBI |
1 semana; 9 x TIAI |
1 semana; 5 x TBI |
PT, 3 semanas; 3x TIAI/semana + 2-3 x TBI |
|
García-Pallarés et al.(27) |
Canoagem |
10 M |
5 semanas; ~LV2 |
5 semanas; ~VO2max, |
2 semanas; tapering |
PT, 22 semanas: 12 semanas ~LV2, 6 semanas ~VO2max , 4 semanas tapering |
Bloco A: bloco de acumulação; Bloco T: bloco de transformação; Bloco R: bloco de realização; F: feminino; GC: grupo controle; LV2: segundo limiar ventilatório; M: masculino; n: numero de sujeitos; PB: periodização em blocos; PT: periodização tradicional; TBI: treinamento de baixa intensidade; TIAI: treinamento intervalado de alta intensidade; VO2max: consumo máximo de oxigênio; XCO: cross-country; ?: não especificado.
Qualidade dos estudos
A qualidade dos estudos foi acessada por meio da escala PEDro18 pelos autores desta revisão de forma independente, onde não houve desacordo na aplicação dos pontos para cada estudo. Num total de 11 pontos possíveis de qualidade os estudos incluídos nesta revisão alcançaram na média ± desvio padrão 6 ± 1 pontos (range de 4-7), sendo considerados como de boa qualidade metodológica.
Desenho experimental dos estudos
Em triatletas o desenho experimental de Zinner et al.19 e Wahl et al.20 compreendeu um bloco 14 dias com 16 e 15 sessões de TIAI, respectivamente. Durante o bloco, os atletas realizavam 3 dias consecutivos com sessões de TIAI e descansavam por 1 dia, Wahl et al.20 alocados em 2 grupos de TIAI com pausas passivas ou ativas. O tapering foi realizado por 1 semana no estudo de Wahl et al.20, e 2 semanas no estudo de Zinner et al.19 Clark et al.21 e Costa et al.22 investigaram blocos concentrados com diferentes modelos de TIAI em ciclistas treinados, cada um realizado de forma concentrada e consecutiva ao longo de 7 dias, os atletas realizaram ainda 1 bloco de treinos de baixa intensidade durante a semana previa e 2 semanas de tapering após. Os grupos controle realizaram o treinamento convencional de costume.
Foram encontrados 3 estudos do grupo de Rønnestad et al.23–25, a principal característica dos estudos deste grupo foi a comparação entre a organização do mesmo número de sessões de TIAI de forma concentrada (PB) ou com 1-3 sessões por semana (PT). O primeiro estudo do grupo23, os ciclistas que treinaram sob a PB realizaram um bloco semanal com 5 sessões de TIAI e 3 semanas de treinamento em baixa intensidade (incluindo 1 sessão de TIAI por semana), já o grupo que treinou sob a PT realizou 4 semanas com 2 sessões de cambiar por semana e treinamento de baixa intensidade. No segundo estudo Rønnestad et al.24 submeteram ciclistas com características muito semelhantes aos do estudo anterior, a um programa de treinamento prolongado totalizando 3 meses. Para o grupo que treinou sob a PB cada mês foi separado da seguinte forma: um bloco semanal com 5 sessões de TIAI seguido de três semanas de treinamento de baixa intensidade (incluindo uma sessão de TIAI por semana). Já o grupo sob a PT os atletas realizaram 12 semanas com 2 sessões de TIAI por semana e treinamento de baixa intensidade. No estudo25 com esquiadores cross-country de elite os atletas foram divididos em 2 grupos. O grupo que treinou sob a PB realizou um bloco semanal com 5 sessões de TIAI, seguido por 4 semanas, onde eram realizadas 1 sessão de TIAI, exceto na terceira semana onde foram realizadas 3 sessões de TIAI, o restante do treinamento foi de baixa intensidade. O grupo que treinou sob a PT realizou 2 sessões de TIAI durante as 4 semanas, exceto na terceira semana onde realizou 3 sessões, o restante do treinamento foi de baixa intensidade.
García-Pallarés et al.27 e McGawley et al.26 comparram a PB com a PT realizando estudos com senho experimental cross-over, ou seja , os mesmos atletas treinaram sob os 2 modelos de periodização. García-Pallarés et al.27 submeteram atletas olímpicos de canoagem a PT e PB, onde as periodizações treinaram por 22 e 12 semanas, respectivamente. No estudo de McGawley et al.26 os esquiadore cross-country treinaram sob a PT realizaram 9 semanas de treinamento, realizando 3 sessões de TIAI por semana, intercalando com treinos de baixa intensidade, sob a PB os atletas realizaram 1 semana de treinos de baixa inetensidade, 1 semana com 9 sessões de TIAI e 1 semana com treinos de baixa intensidade.
Métodos do treinos de alta e baixa intensidade
Na Tabela 2 são apresentados os métodos de TIAI e de baixa intensidade (TBI) utilizados pelos estudos durante os blocos de treinamento.
Tabela 2. Caracterização dos treinos intervalados de alta intensidade e baixa intensidade realizados.
Referência |
Modo de exercício |
TIAI |
TBI |
||||
Repetições |
Duração |
Intensidade |
Intervalos |
Duração |
Intensidade |
||
Zinner et al.(19), Wahl et al.(20)
|
Ciclismo |
4 |
4 min |
90-95% FCmax |
3 min |
|
|
Corrida |
2 x 10 |
40 s |
90-95% FCmax |
20 s, 3min |
|
|
|
Natação |
6 |
200 m |
90-95% v200m |
2 min |
|
|
|
Clark et al.(21) |
Ciclismo |
PBTIAI C 25 x 3 |
10, 15, 20 s |
all-out |
50, 75, 100 s |
˂120 min |
? |
Clark et al.(21), Costa et al.(22) |
Ciclismo |
PBTIAI L 10 x 3 |
15, 30, 45 |
all-out |
75, 150, 225 s |
|
|
Rønnestad et al.(23–25)
|
Ciclismo, Esqui XCO |
5-6 |
5-6 min |
85-100% FCmax |
2.5-3 min |
≥ 60 min |
60-82% FCmax |
McGawley et al.(26) |
Esqui XCO |
5 |
4 min |
Esforço máximo |
6 min |
60-120 min |
60-80% FCmax |
García-Pallarés et al.(27) |
Canoagem |
2-4 x 1-10 |
5-20 min |
80–90% VO2max |
1-4 min |
20-90 min |
70–80% VO2max |
2-5 x 4-8 |
1-8 min |
90–100% VO2max |
2-8 min |
|
|
all-out: esforço na máxima intensidade; FCmax: frequência cárdica máxima; m: metros; min: minutos; TBI: treinamento de baixa intensidade; TIAI: treinamento intervalado de alta intensidade; PBTIAIC: grupo de treinamento com TIAI de esforços de 10 a 20 segundos; PBTIAIL: grupo de treinamento com TIAI de esforços de 15 a 45 segundos; s: segundos; VO2max: consumo máximo de oxigênio; v200m: velocidade para a prova de 200 metros na natação; XCO: cross-country; ?: não especificado.
Resultados sobre os parâmetros fisiológicos e sobre o desempenho
Para o VO2max os atletas que treinaram sob a PB demonstraram ganhos de 2-10%, para a PT houve uma melhora de 3.7-11%, porém nos estudos24,27 de maior duração. Para a medida da Pmax todos os estudos apresentaram superioridade de ganhos na PB, onde houveram ganhos de 2.1-17%, enquanto sob a PT também os estudos24,27 de maior duração apresentaram ganhos significativos de 3-9%. Para o LTF na PB houveram melhoras de 8.7-22%, já para a PT melhoras de 4-11%. Para os testes de contrarrelógio houveram ganhos de desempenho de 4.3-15.5% para PB, e 2.1-4.1% para PT, o único estudo que demonstrou superioridade para a PT em relação a PB foi o de McGawley et al.26 para o contrarrelógio de 600 metros. Nenhum estudo demonstrou melhora na economia de movimento independente do modelo de periodização. Os resultados completos são apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Resultados sobre os parâmetros fisiológicos e no desempenho de contrarrelógio.
Referência |
Modalidade |
Periodização |
Resultados |
||||
VO2max |
Pmax |
LTF |
EC |
Desempenho |
|||
Zinner et al.(19) |
Triatlo |
PB |
↔ |
↑ 5.1% |
|
|
CR20min W ↑ 15.5%
|
Wahl et al.(20)
|
Triatlo
|
PBTIAIP |
↔ |
↑ 4.6% |
(c) ↑ 8.7% |
|
CR20min W ↑ 16% |
PBTIAIA |
↔ |
↑ 4% |
(c) ↔ |
|
CR20min W ↑ 9% |
||
Clark et al.(21) |
Ciclismo
|
PBTIAI L |
↔ |
↑ 3.5% |
(a) ↔ |
↔ |
CR20km W ↑ 6.8% |
PBTIAI C |
↔ |
↑ 7.4% |
(a) ↔ |
↔ |
CR20km W ↑ 4.6% |
||
GC |
↔ |
↔ |
(a) ↔ |
↔ |
CR20km W ↔ |
||
Costa et al.(22)
|
Ciclismo
|
PB |
|
|
|
|
CR20km t ↑ 4.4% |
GC |
|
|
|
|
CR20km t ↔ |
||
Rønnestad et al.(23) |
Ciclismo |
PB |
↑ 4.6% |
↑ 2.1% |
(b) ↑ 10% |
|
|
PT |
↔ |
↔ |
(b) ↔ |
|
|
||
Rønnestad et al.(24)
|
Ciclismo |
PB |
↑ 8.8% |
↑ 6.2% |
(b) ↑ 22% |
|
CR40min W ↑ 8.2% |
PT |
↑ 3.7% |
↔ |
(b) ↑ 10% |
↔ |
CR40min W ↑ 4.1% |
||
Rønnestad et al.(25) |
Esqui XCO |
PB |
↑ 2.0% |
↑ 3.8% |
(a) ↑ 11% |
|
|
PT |
↔ |
↑ 3% |
(a) ↑ 4% |
|
|
||
McGawley et al.(26) |
Esqui XCO |
PB |
↔ |
|
|
↔ |
CR600m t ↔ |
PT |
↔ |
|
|
↔ |
CR600m t ↑ 2.1% |
||
García-Pallarés et al.(27) |
Canoagem |
PB |
↑ 10% |
↑ 17% |
(c) ↑ 10% |
|
|
PT |
↑ 11% |
↑ 9% |
(c) ↑11% |
|
|
(a): onset blood lactate accumulation- OBLA; (b): limiar de lactato fixo em 2 mmol/L; (c): segundo limiar ventilatório; CR20min W: potência média contrarrelógio de 20 minutos; CR20Km W: potência média do contrarrelógio de 20 Km; CR20Km t: tempo para completar o contrarrelógio de 20 Km; CR40min W: potência média do contrarrelógio de 40 minutos; CR600m t: tempo para completar o contrarrelógio de 600 metros; LTF: limiar de transição fisiológica; TIAI: treinamento intervalado de alta intensidade; PBTIAIC: grupo de treinamento com TIAI de esforços de 10 a 20 segundos; PBTIAIL: grupo de treinamento com TIAI de esforços de 15 a 45 segundos; PBTIAIA: grupo de treinamento com TIAI pausas ativas; PBTIAIP: grupo de treinamento com TIAI pausas passivas; Pmax: potência aeróbia máxima; VO2max: consumo máximo de oxigênio; ↑: melhora significativa; ↔: sem melhora significativa
Discussão
A principal característica dos estudos sob a PB foi a execução de um bloco concentrado compreendido por 1 a 2 semanas , composto por 5-9 sessões de TIAI em dias consecutivos, seguido pelo tapering de 1-3 semanas ou um bloco de 2 semanas , composto por ~15 sessões de TIAI, seguido pelo tapering de 1-2 semanas. Enquanto os atletas que treinaram sob a PT realizaram 3 sessões de TIAI por semana , intercalados por treinos de baixa intensidade. O principal achado desta revisão é que PB proporcionou resultados superiores nas variáveis VO2max, LTF, Pmax e no desempenho dos atletas, quando comparado a PT.
Já é bem estabelecido na literatura que os parâmetros fisiológicos que determinam o desempenho de endurance são o VO2max, LTF e a EC13–15, bem como altas correlações foram encontradas entre esses parâmetros, a Pmax com os mais diferentes contrarrelógios28,29, assim atletas devem ter esses índices mais elevados possível. Os estudos encontrados nesta revisão apontaram que em apenas algumas semanas (~3) treinando sob a PB os atletas conseguiram melhorar esses parâmetros, bem como o desempenho dos atletas é aumentado de forma muito rápida, assim os atletas que tem o calendário com muitas competições durante toda a temporada conseguem entrar em forma rapidamente estando melhor preparado fisicamente para um maior número de competições1.
A proposta da PB é condensar determinadas capacidades físicas em curtos períodos de forma sequencial1,2, quanto ao TIAI os estudos de Rønnestad et al.23–25 apontaram superioridade nos ganhos das medidas fisiológicas e no desempenho quando realizado de forma concentrada comparado a quando o TIAI é realizado de forma distribuído com 2-3 sessões por semana (PT), outro ponto importante a se destacar nos estudos deste grupo de pesquisa é que o volume de treinamento e o número de sessões de TIAI foi equalizado para PB e PT. Por outro lado García-Pallarés et al.27, verificaram em canoístas de elite que 12 semanas concentradas de treinamento sob a PB proporcionaram ganhos semelhantes a 22 semanas de treinamento sob a PT, assim os resultados superiores da PB estão associados a concentração em dias consecutivos do TIAI, o que pode levar os atletas a um estado aumentado de estresse ao treinamento e posteriormente a supercompensação, assim associados a um estado de overreaching funcional ou fadiga aguda.
Os mecanismos fisiológicos que podem explicar os efeitos superiores da PB, principalmente sobre o VO2max, pode ser pelo aumento do volume sanguíneo30,31. Graham et al.30 demonstraram que apenas 1 sessão de TIAI aumentou o volume sanguíneo em 5% até 22 horas após a sessão de treino, assim especulasse que vários dias seguidos de TIAI podem aumentar o volume plasmático levando a alterações no VO2max31. Outro mecanismo que poderia explicar o aumento no VO2max é o aumento na massa de hemoglobina, porém, ao contrario do volume sanguíneo onde as adaptações já ocorrem em poucos dias, a melhora na massa de hemoglobina só ocorre após pelo menos 12 semanas de treinamento31, como observado por Rønnestad et al.24 onde após 12 semanas sob a PB houve um aumento de 5% na massa de hemoglobina. Podem ser apontadas ainda as vantagens do aumento do volume sanguineo como a melhor dissipação de calor e estabilidade termorreguladora, maior volume de ejeção e consequentemente menor frequência cardíaca durante o exercício32.
A limitação dos estudos pode ser apontada a não realização dos testes de desempenho imediatamente após o bloco concentrado, desta forma, não é possível saber se realmente os atletas entraram em overreaching ou apenas em fadiga aguda. Nos estudos com ciclistas23,24 as medidas de bem estar nas pernas apontaram maior fadiga nos atletas que realizaram a PB, em triatletas a PB resultou no estado anabólico aumentado19, ou seja, os atletas estavam em um estado de estresse aumentado, nos esquiadores26 as sessões de TIAI resultaram em uma percepção de recuperação pior em relação a PT, porém o desempenho durante as sessões de TIAI não foram diferentes entre PT e PB26, em outro estudo não incluído nesta revisão esquiadores alpino após um bloco de 11 dias com 15 sessões de TIAI apresentaram decréscimo nas medidas de potência muscular33.
A sobrecarga do treinamento por meio da intensificação desempenha um papel chave nos períodos que antecedem o tapering1,34. Assim após o bloco intensificado um aspecto importante é a realização adequada do tapering3,34, McGawley et al.26 utilizaram 1 semana de tapering e não obervaram qualquer ganho no VO2max e no contrarrelógio, nos estudos em triatletas19,20 os ganhos no desempenho e na Pmax foram superiores com o tapering de 2 semanas , comparado a 1 semana, como também observado por Clark et al.21 e Costa et al.22 em ciclistas onde os resultados aferidos após 14 dias de tapering eram superiores aos do sétimo. Deste modo, o período de 2 semanas é mais adequado para ganhos nas medidas fisiológicas e no desempenho após o período de intensificação do treinamento, estando de acordo com as recomendações de tapering3,6.
Limitações
Uma limitação do estudo é a heterogeneidade entre os desenhos experimentais dos estudos. Apesar de que já é bem difundindo na literatura a avaliação dos efeitos de programas de treinamento por meio dos parâmetros fisiológicos e o desempenho, outros efeitos potenciais da PB não foram avaliados.
Perspectivas futuras
Em atletas um período curto e concentrado de treinos intensos demonstrou aumentar as variáveis fisiológicas e o desempenho. Futuros estudos devem ser conduzidos para verificar se os efeitos positivos dos blocos concentrados estão associados a um estado de overreaching funcional, bem como marcadores de overreaching e overtraining devem ser utilizados. Além disso, é preciso compreender o número mínimo e máximo de dias consecutivos de TIAI que são necessários para se observar ganhos de desempenho nos atletas. Adicionalmente, os mecanismos fisiológicos que buscam compreender os rápidos ganhos no desempenho também não foram esclarecidos.
Conclusão
A PB é um modelo de treinamento com aplicabilidade prática diretamente no esporte, pois, atletas podem entrar em forma rapidamente com apenas algumas sessões de treinos intensos realizados em poucos dias consecutivos..
Autoria. Todos os autores contribuíram intelectualmente no desenvolvimento do trabalho,assumiram a responsabilidade do conteúdo e, da mesma forma, concordam com a versão final doartigo. Conflito de interesses. Os autores declaram não haver conflito de interesses. Origem e revisão. Não foi encomendada, a revisão foi externa e por pares. Responsabilidades Éticas. Proteção de pessoas e animais: Os autores declaram que os procedimentos seguidos estão de acordo com os padrõeséticos da Associação Médica Mundial e da Declaração de Helsinque. Confidencialidade: Os autores declaram que seguiram os protocolos estabelecidos por seus respectivos centros para acessar osdados das histórias clínicas, a fim de realizar este tipo de publicação e realizar uma investigação / divulgação para a comunidade. Privacidade: Os autores declaram que nenhum dado que identifique o paciente aparece neste artigo.
Referências
∗ Autor para correspondência.
Correios eletrónicos: vitor.costa@udesc.br (V. P. Costa).
https://doi.org/10.33155/j.ramd.2018.03.002
Consejerı́a de Educación y Deporte de la Junta de Andalucı́a. Este é um artigo Open Access sob uma licença CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/)